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sábado, 15 de junho de 2013

Avestruz - Mario Prata

Avestruz
Mario Prata

O filho de uma grande amiga pediu, de presente pelos seus 10 anos, um avestruz. Cismou, fazer o quê? Moram em um apartamento em Higienópolis, São Paulo. E ela me mandou um e-mail dizendo que a culpa era minha. Sim, porque foi aqui ao lado de casa, em Floripa, que o menino conheceu os avestruzes. Tem uma plantação, digo, criação deles. Aquilo impressionou o garoto.  
Culpado, fui até o local saber se eles vendiam filhotes de avestruz. E se entregavam em domicílio.
E fiquei a observar a ave. Se é que podemos chamar aquilo de ave. O avestruz foi um erro da natureza, minha amiga. Na hora de criar o avestruz, Deus devia estar muito cansado e cometeu alguns erros. Deve ter criado primeiro o corpo, que se assemelha, em tamanho, a um boi. Sabe quanto pesa um avestruz? Entre 100 e 160 quilos, fui logo avisando a minha amiga. E a altura pode chegar a quase 3 metros - 2,70 para ser mais exato.
Mas eu estava falando da sua criação por Deus. Colocou um pescoço que não tem absolutamente nada a ver com o corpo. Não devia mais ter estoque de asas no paraíso, então colocou asas atrofiadas. Talvez até sabiamente para evitar que saíssem voando em bandos por aí, assustando as demais aves normais.
Outra coisa que faltou foram dedos para os pés. Colocou apenas dois dedos em cada pé. Sacanagem, Senhor!
Depois olhou para sua obra e não sabia se era uma ave ou um camelo. Tanto é que, logo depois, Adão, dando os nomes a tudo o que via pela frente, olhou para aquele ser meio abominável e disse: Struthio camelus australis. Que é o nome oficial da coisa. Acho que o struthio deve ser aquele pescoço fino em forma de salsicha.
Pois um animal daquele tamanho deveria botar ovos proporcionais ao seu corpo. Outro erro. É grande, mas nem tanto. E me explicava o criador que os avestruzes vivem até os 70 anos e se reproduzem plenamente até os 40, entrando depois na menopausa. Não têm, portanto, TPM. Uma fêmea de avestruz com TPM é perigosíssima!
Podem gerar de dez a 30 crias por ano, expliquei ao garoto, filho da minha amiga. Pois ele ficou mais animado ainda, imaginando aquele bando de avestruzes correndo pela sala do apartamento.
Ele insiste, quer que eu leve um avestruz para ele de avião, no domingo. Não sabia mais o que fazer.
Foi quando descobri que eles comem o que encontram pela frente, inclusive pedaços de ferro e madeiras. Joguinhos eletrônicos, por exemplo. Máquina digital de fotografia, times inteiros de futebol de botão e, principalmente, chuteiras. E, se descuidar, um mouse de vez em quando cai bem.
Parece que convenci o garoto. Me telefonou e disse que troca o avestruz por cinco gaivotas e um urubu.
Pedi para a minha amiga levar o garoto a um psicólogo. Afinal, tenho mais o que fazer do que ser gigolô de avestruz.

PRATA, Mário. Avestruz. Disponível em: www.marioprataonline.com.br. Acesso em: 14 fev. de 2008
Situação de Aprendizagem

Antes da leitura (ativação de conhecimentos de mundo a partir do título).

A – Vocês já viram um avestruz? Em caso afirmativo vocês poderiam descrevê-lo?
B – Em que ambiente vive um avestruz?
C – Na sua opinião, o avestruz poderia ser u bicho de estimação? Por quê?


Depois da Leitura (checagem de hipóteses)
A – O texto pode confirmar aquilo que vocês pensavam antes da leitura?
B – Qual é a ideia principal deste texto?
C – Há alguma palavra no texto que para vocês tenha um significado desconhecido? Quais são elas?
D – Releia o texto e tente inferir (deduzir) o significado destas palavras. É possível descobri-las? Por quê?

(exercícios de leitura - escrito)
1- A crônica de Mario Prata que tem como título “Avestruz” se refere a uma experiência compartilhada entre narrador e o menino que lhe pediu uma avestruz como presente de aniversário. No 1º parágrafo o narrador mostra claramente o desejo do menino em ganhar uma avestruz. Através de uma leitura prévia a expressão “cismou fazer o quê?”, sugere que:

(  ) o narrador se refere ao menino
(  ) o narrador se refere a mãe do menino
(  ) o narrador se refere ao avestruz

2-No 2º parágrafo culpado é um adjetivo que representa um sentimento expresso pelo narrador. Das palavras abaixo qual pode substituir o adjetivo em destaque?
(  ) obrigado
(  ) sorrindo
(  ) bebendo
(  ) indignado

3 – Retire do texto o parágrafo que aponta um conflito do narrador em solucionar o problema enfrentado por ele em relação ao avestruz, visto que aponta muitos defeitos e desculpas para dar o presente ao garoto, e já não há mais alternativa a não ser entregar o presente.

4 – Qual é o título da crônica de Mario Prata?

5 – Quem se sente culpado por apresentar avestruzes ao garoto?

6 – Em quem o narrador atribui a culpa por ter criado o avestruz?

7 – O narrador demonstra to irônico em:
a – (  ) Sacanagem, Senhor!
b – (  ) Minha amiga
c – (  ) Expliquei ao garoto
d – (  ) Cismou, fazer o quê?

8 – “Podem gerar de dez a trinta crias por ano, expliquei ao garoto, filho da minha amiga” o trecho destacado representa:
a – (  ) a fala do narrador
b – (  ) a fala do garoto
c – (  ) a fala da amiga do narrador

 9 – Qual era o desejo do menino?

10 – Por que ele tinha esse desejo?

11 – O que leva o menino a acreditar que o seu desejo poderia ser realizado?

12 – O que poderá impedir a realização do desejo dele?


13 – O que o autor quis dizer com: “Pedi para a minha amiga... Afinal, tenho mais o que fazer do que ser gigolô de avestruz.”

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Meu primeiro beijo - Antonio Barreto

Um texto que sempre gera interesse por parte dos alunos e permite trabalharmos, além das habilidades de leitura, discussões sobre assuntos pertinentes á idade deles, é o texto Meu primeiro Beijo, de Antonio Barreto, que segue com uma sugestão de atividade, pensada para o 9º ano, mas que serve bem para séries anteriores.



Meu Primeiro Beijo
Antonio Barreto
É dificil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
" Você é a glicose do meu metabolismo.
Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher...E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
- Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
- Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
- A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...
Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.
E de reperente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do primeiro beijo.
Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por vária semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram...e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!

BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977. p. 134-6.

Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22430



1-  Qual seria o público alvo do texto? Justifique sua resposta.


2-  Observe o trecho: “As contas de telefone aumentaram, depois diminuíram” Como você entende essa passagem?

3-  Qual é o objetivo desse texto?


4-  Qual foi a impressão que esse texto lhe causou?

5-  Em grupo de quatro alunos, procurem na internet outros textos que tenham como tema o primeiro beijo. Escreva sobre as semelhanças e as diferenças entre o texto lido e o que você encontrou.


6-  Entreviste um colega de sua classe para descobrir se ele já deu primeiro beijo e com que idade. Monte uma tabela com esses dados.

7-  Partindo da tabela criada, prepare-se para um debate com o seguinte tema “o jovem de hoje está dando seu primeiro beijo cedo demais”?



8-  Produza um texto argumentativo expondo sua opinião sobre o tema abordado.

Pausa - Moacyr Scliar

Para fazermos um trabalho com turmas de 9º ano que envolvam, além das habilidades de leitura previstas no programa, a ideia de pausa em nossas vidas, esse texto é muito interessante. Segue junto uma ideia que tivemos para trabalhar com ele.

Pausa
Moacyr Scliar

            Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
- Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
- Todos os domingos tu sais cedo - observou a mulher com azedume na voz.
- Temos muito trabalho no escritório - disse o marido, secamente.
Ela olhou os sanduíches:
- Por que não vens almoçar?
- Já te disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda.    Antes que voltasse à carga. Samuel pegou o chapéu:
-  Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Como pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
- Ah! seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
- Estou com pressa, seu Raul - atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. - Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
- Aqui, meu bem! - uma gritou, e riu; um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches.       Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguido por um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados; índio acabara de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor. Samuel tombou lentamente: ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou.   Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
- Já vai, seu Isidoro?
- Já - disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
- Até domingo que vem seu Isidoro - disse o gerente.
- Não sei se virei - respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre - observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa...

SCLIAR, Moacyr. Pausa. Disponível em O carnaval dos animais. Porto Alegre, Ed Movimento, 1963


1) Ativação de conhecimento de mundo, antecipação ou predição, checagem de hipóteses:

Reflita sobre as seguintes questões:
·       Título: “Pausa”
·       O que é uma pausa?
·       O que nos sugere?
·       Para quê? Em que faria uma pausa?
·       Parar o quê? Por quê?
·       (espera: intervalo/domingo/férias/descanso)
·       O que  você faz nos finais de semana, nos feriados, nas férias?

Orientar para prestar atenção, durante a leitura, nas referências tempo e   locais, horários, dia da semana,   casa/hotel(...) outros (inferir)

2)   Após a leitura:

  • O que Samuel fazia aos domingos? O que dizia à mulher que iria fazer? Qual era o seu trabalho?
  • Que motivos levariam dizer à mulher que iria trabalhar aos domingos?
  • Por que o nome Isidoro? Como surge?
  • Que relação há entre o sonho de Samuel e a busca de liberdade?
  • Como associamos o termo “pausa” e as marcações de tempo no decorrer do texto?

3)   Leia o poema de Manuel Bandeira, escute a música  “Vamos fugir”, Gilberto Gil/Skank e compare as “pausas” sugeridas nesses textos à pausa feita por Samuel, no texto de Moacyr Scliar. Depois, registre suas ideias e compartilhe-as com a sala

Ref.: “Vou-me embora pra Pasárgada”- Manuel Bandeira -http://www.releituras.com/mbandeira_pasargada.asp
 “Vamos fugir” – Skank - http://letras.mus.br/skank/75215/